Thursday, March 23, 2006

Louvain, Sapientale


Vincadamente universitária, Louvain pode ser considerada a “Coimbra belga”.
A universidade, a vida académica, a biblioteca, as livrarias técnicas, as residências universitárias povoam a cidade, assim como as bicicletas, transporte eleito pelos estudantes para as suas deslocações.
Em pleno Verão a cidade encontra-se movimentada e com as universidades em funcionamento. Pela sua reputação, muitas delas oferecem cursos de verão, que acolhem estudantes de todo o mundo, mas maioritariamente de outros países da Europa.
No centro histórico de Louvain situa-se um dos mais espectaculares edifícios que alguma vez visionei, trata-se do Hotel de Ville, actualmente sede do posto de turismo, completamente adornado de estátuas e em excelente estado de conservação, o que não parece nada fácil! Uma visita a esta cidade vale a pena nem que seja para observar esta belíssima jóia da arquitectura. Bem perto fica a fonte Sapientale, que como o nome indica, simboliza a sabedoria/sapiência.
Tal como em Brugges, também aqui se pode visitar o Beguinage, um dos maiores do país, o qual se encontra reconvertido em residência universitária, e como tal rodeado de patisseries e cybercafés, prontos a satisfazer as exigências de futuros doutores e engenheiros.
A cerca de meia hora de Bruxelas, uma visita à movimentada Louvain pode constituir um bom complemento a uma estada na capital belga.

Próxima paragem…

Monday, March 20, 2006

Lagos dos Descobrimentos


Ontem foi dia do pai.
O meu primeiro dia do pai enquanto pai!
Nunca dei grande importância à data pois não vivo com o meu desde os 3 anos de idade. Agora será diferente.
Desde que me lembro, sempre gostei de passear e na verdade foram muito poucas as vezes que o fiz com ele. As únicas férias que passei com o meu pai foram quando tinha 7 ou 8 anos. Apenas um fim-de-semana prolongado, repartido entre a praia da Arrifana em Aljezur e Lagos.
É precisamente a auto denominada capital dos descobrimentos marítimos portugueses que aqui lembro hoje, cujas marcas e referências ao glorioso passado quinhentista se encontram a cada canto da cidade.
Além destas férias, recordo com algum carinho a visita de estudo da 3.ª classe, em que criei uma expectativa enorme sobre o mercado dos escravos. O que me revoltou já na altura, imaginar que pessoas eram transaccionadas como mercadorias. Para mim os mercados serviam para vender fruta, legumes e peixe, não pessoas!
Não imaginam a satisfação com que trepei a estátua do Infante D. Henrique, e efusivamente posei com a mão sobre o simbólico chapéu, para que o momento ficasse registado em mais uma fotografia (sim, na altura a máquina fotográfica já me acompanhava) a juntar a tantas outras tiradas nas muralhas, no forte, nas igrejas, nas ruas…um dia em cheio! Engraçado como tudo era vivido de forma tão intensa.
Desde então Lagos passou a ser um destino de eleição no reino dos Algarves, sobretudo desde os 18 anos. A carta de condução dá-nos asas! Voltei algumas vezes, em férias, em passeio, em trabalho…Gosto das praias, da Meia, da Batata, da D. Ana, da incontornável, magnífica e única Ponta da Piedade. Gosto da Marina, das esplanadas, da animação constante, diurna e nocturna da multicultural cidade, do el-rei D. Sebastião do Cutileiro… Gosto de Lagos!

Próxima paragem…

Thursday, March 16, 2006

Águas do Vez


A chuva dá-nos as boas vindas. Não é muita, mas a suficiente para antecipar o ansioso e tardio almoço. A manhã ia longa e a barriga dava sinal de que já eram horas de atacar qualquer coisinha…
Depois de alegrar as vistas no Parque Natural da Peneda Gerês, havia agora que reconfortar o estômago. Para variar, bacalhau, regado com um bom verde maduro tinto bem fresco, ementa recorrente dos últimos dois dias. No Alto Minho é impossível contornar esta tentação. Em Arcos de Valdevez não foi diferente.
Após o almoço, a chuva amainou e permitiu um agradável passeio nas margens do Vez.
As águas do rio, reflectem os arcos da ponte, a igreja e alguns edifícios da zona histórica da vila, um espelho de água favorecido pelo açude recentemente reabilitado.
Na margem direita, o jardim impecavelmente cuidado, assim como a grande alameda, onde se digladiam interminavelmente, os reis D. Afonso VII de Leão e o conquistador D. Afonso Henriques. Na batalha do ano de 1140 em Arcos de Valdevez, confrontaram-se os regimentos dos dois soberanos. A história revela um episódio violento, sangrento como nenhum outro até então. Conta-se que durante muito tempo, as águas do Vez chegavam ao rio Lima com uma cor púrpura, tal não foi a carnificina e o sangue derramado na batalha, avolumando o caudal do rio.
Aproxima-se a hora do lanche, venha o verde maduro tinto, que bebido na malga, ganha um sabor especial. A sua tonalidade rubra, honra, quem sabe, o sangue dos heróicos guerreiros.
À saúde e in memoriam!

Próxima paragem…

Monday, March 13, 2006

Matmata, a Troglodita



Para trás ficou o Chott El Jehrid, o grande lago salgado.
As partículas de sal pontuam de cor a imensa extensão de areia, ora de azul, ora verde ou rosa, variando consoante a intensidade de luz solar e a quantidade de água, raríssima por estas paragens, marco das fabulosas paisagens tunisinas.
Do circuito, uma cidade me suscitava maior curiosidade, Matmata, a cidade escavada na rocha, mãe do povo Troglodita.
A procura turística do local retirou-lhe o sossego, autenticidade e o estado puro, conservado até à sua descoberta, motivada pela peculiaridade do espaço. Actualmente visita-se como se de um parque temático se tratasse, tipo Aldeia do Astérix, à procura dos moradores no seu habitat natural. Um negócio para todos: trogloditas, operadores turísticos e visitantes. É certamente um negócio, mas é inegável a hospitalidade deste povo, que acolhe como ninguém, face às contingências do local. A hospitalidade de uma família troglodita, fez-se sentir, por exemplo, na oferta de um singelo repasto, que embora simples, reconfortou ao fim de um dia em viagem sob um sol abrasador.
Pão, azeite, azeitonas e chá de menta fresca, servido na acolhedora (tanto quanto possível) cozinha, uma das quatro divisões na “casa”, cada qual no seu buraco independente, servido por um pátio comum. Em troca da afabilidade e dos sorrisos, um punhado de dinares, solicitados por todos e em todas as ocasiões…
Da simpática família, um casal e duas filhas, ainda crianças, que ora corriam descalças sobre a terra quente, ora se sentavam a brincar trabalhando em torno de uma mó, imperava o respeito, educação e timidez face às visitas, tantas quanto os lugares dos autocarros que diariamente incluem a esburacada cidade no percurso.
Realço o olhar de uma das tímidas crianças, um dos mais bonitos e tocantes olhares que já vi. Registei-o e partilho-o convosco, os olhos verdes trogloditas, profundos como cada uma das assoalhadas em Matmata.

Próxima paragem…

Friday, March 10, 2006

Peniche, da faina e do mar


Terra de mar e maresia, de gente brava que enfrenta diariamente os desafios e aspereza da faina, da actividade piscatória, imagem da afável cidade de Peniche.
Do porto de abrigo, partem os barcos coloridos para a pesca, em busca do sustento e do pão. Os tempos mudaram, são cada vez menos as embarcações e os homens no mar. As quotas de pesca, os limites de captura de algumas espécies entre outros factores, motivam essa situação. O próprio mar já não é o mesmo. Longe vão os tempos em que a faina dava de comer à cidade, havia peixe para “dar e vender”, hoje contam-se os quilos, declaram-se na lota e é cada vez mais difícil “passar” peixe, muitas vezes, fonte suplementar de rendimento para as famílias da terra.
As iguarias cozinhadas com peixes são o prato forte da cidade. Caldeiradas, arrozes, massadas… uma delícia! Locais para as saborear não faltam, tal não é a oferta de restaurantes na cidade, sobretudo junto ao canal, verdadeira montra da gastronomia local. Perante tanto apelo, a escolha não é fácil, o melhor é seguir o olfacto… após o almoço, para ajudar na digestão, nada como uma caminhada pelas ruas surpreendentemente alinhadas, na original e perfeita planta ortogonal da cidade.
Peniche ficará para sempre, na história contemporânea portuguesa, associada ao facto de ter acolhido no seu majestoso forte debruçado sobre o mar, uma das mais importantes cadeias politicas da antiga ditadura salazarista. A importância derivou é certo, de alguns dos prisioneiros, nomeadamente do mediático Álvaro Cunhal, protagonista de uma heróica e cinematográfica fuga, imagem da contestação política ao regime, então instaurado.
Durante a sua “forçada” estada no forte, Cunhal desenvolveu um apurado sentido artístico, constatável na colecção de desenhos, vincadamente políticos, que integram o espólio da colecção permanente do forte, juntamente com correspondência, poesia e outros artefactos. A visitar.

Próxima paragem…

Tuesday, March 07, 2006

Aldeia da Luz (apagada)


As ruas eram estreitas e “desaguavam” no pequeno largo da igreja nova. Ao lado a venda, ponto de encontro para o cafezinho após o almoço, ou para as refrescantes cervejolas do final da tarde, que matavam a sede e tentavam aliviar os sintomas da insuportável calma dos meses de Verão.
No largo, o parque infantil, quiçá mais usado nas últimas semanas de vida da velha aldeia, do que durante toda a sua existência, tal não foi a quantidade de visitantes que a quiseram conhecer antes que submergisse, num mergulho eterno nas águas do Guadiana.
Mais afastada ficava a bonita escola primária, cada vez menos frequentada. Ao fundo, misturava-se o religioso e o profano, igreja, cemitério, campo de jogos e a arena…já não se reza, não se adoram os mortos, não se joga futebol, nem se fazem pegas de cara…só à memória, inundada de solidão.
Neste caso, memórias leva-as a água…
Eram… foi… ficava…não é mais, tudo foi com o caudal crescente do rio.
A planície deu lugar à albufeira, a Aldeia da Luz deu lugar à barragem. Barragem da discórdia, das oportunidades, do emprego, da esperança, da própria luz ao fundo do túnel num Alentejo deserto, despovoado e desprovido de investimentos.
Continuam por concretizar-se as oportunidades…mantém-se a esperança…
Na nova Aldeia da Luz, as ruas não são tão estreitas, o largo não é tão pequeno, contudo, mesmo maior, esta está muito mais cheia, pois além das pessoas, mora lá a saudade.
Próxima paragem…

Friday, March 03, 2006

Sorrisos da Boavista


Fascinante, como numa pequena área se encontram paisagens tão diversificadas.
È assim a Boavista, pequena e pouco explorada ilha do Arquipélago de Cabo Verde. Verdadeira terra de contrastes, a Boavista oferece-nos praias deslumbrantes e desertas. Na costa Norte, praias agrestes e selvagens, com um mar agitado, marcado pela presença de um grande cargueiro, encalhado no areal há mais de 20 anos.
A Sul, a belíssima praia das Chaves, de águas claras, aliás, cristalinas! O interior Sul da ilha é marcado pelos verdejantes palmeirais, que sobranceiam as finas areias brancas. No interior Norte encontra-se o fantástico deserto de Viana, de dunas imensas e quentes, ondas de um enorme mar de areia. Os desertos fascinam-me!
Na capital Sal Rei as crianças perseguem-nos alegres, à espera que as retratemos, para que se revejam nos ecrãs das máquinas fotográficas, acham um piadão! Os sorrisos invadem-nos, enchendo-nos de contentamento, como que nos saudassem.
As gargalhadas são sentidas durante a curta visita à cidade, de casa arranjadas e coloridas. A visita é pontuada pelas brincadeiras com arcos e espadas, brinquedos reinventados de uma qualquer sucata, enchendo de satisfação os meninos anfitriões.
Contagiante a alegria, o sorriso, o mar e o sol, marcas inegáveis, memórias profundas de uma ilha que vale a pena descobrir, sobretudo antes que a tornem numa “outra ilha do Sal”, impregnada de hotéis e turistas.

Próxima paragem…

Wednesday, March 01, 2006

A Ilha de Colombo



A tranquilidade e pacificidade das águas da costa sul deram-lhe o nome, Porto Santo.
Pela pequena ilha do arquipélago madeirense passaram e fixaram-se alguns navegadores, entre eles, Cristóvão Colombo. Na casa que dizem o ter acolhido, encontra-se hoje sedeado o mais importante núcleo museológico da ilha, e um dos principais pólos de atracção da simpática Vila Baleira. Aqui, o modo de transporte tradicional chama-se carriola, uma simples carroça, elegantemente puxada por um cavalo, ao som de uma banda sonora bem portuguesa e da inspiração poética do carrocista!
"Passeie de carriola
e veja que maravilha,
a beleza natural
desta pequena ilha!"
Do Pico do Castelo obtém-se a vista mais bonita da vila e de todo o extenso areal da praia, este sim o principal atractivo da ilha.
No areal fino e dourado, surgem aleatoriamente calhaus negros, que contrastam fortemente com a lívida paisagem da costa Sul e azul. Um azul translúcido, claro e envolvente, a condizer com a tépida temperatura da água, onde apetece mergulhar eternamente…
Percorrendo o areal que se estende por quase 10 km, atinge-se o “fim” da praia, a Ponta da Calheta. Aqui, formações rochosas inventam arcos erguidos na bruma das ondas, assemelhando-se com janelas, janelas abertas ao mar e ao horizonte tranquilo.

Próxima paragem…