Friday, November 24, 2006

Lá no fundo


As estradas tortuosas conduzem-nos vagarosamente. Não arrisco mais que 50 km/h, em alguns troços bem menos… Aqui e ali, pequenos miradouros deixam-nos já vislumbrar, bem lá no fundo, a pequena vila, rodeada de ribeiras. Curral das Freiras, situado no centro da ilha jardim (e do Jardim!), testemunhou até há bem pouco tempo, as consequências do isolamento. Agora, já existe um túnel que diminuiu para metade o tempo de deslocação desde o Funchal. Sem dúvida, uma melhoria significativa na qualidade de vida dos seus habitantes, mas perdeu-se a magia. A magia da descoberta que se fazia a cada virar na estrada, a cada metro que se descia para mergulhar nas profundezas do grande caldeirão, a cada buzinadela dos destemidos autocarros que corriam vezes sem conta, carregados de turistas, ávidos de percorrer esta montanha russa natural. A magia está lá, na singularidade e beleza envolvente da paisagem luxuriante, mas sem dúvida que o percurso acentuava o encantamento do Curral.
A geomorfologia do local favoreceu o isolamento, assim como o protegeu das ameaças da urbanização desmedida. Não fora a fuga das freiras do Funchal e o seu refúgio no Curral, aquando do ataque dos piratas no século XVI à ilha, e a história seria diferente. Talvez este inóspito local não tivesse grandes atractivos para a fixação de uma comunidade. Neste caso, reunia as condições ideais de defesa, para o retiro e para levar uma vida mais reservada, são as regras do convento!

Próxima paragem…

Thursday, November 16, 2006

Bruxelas, capital da Europa


Parti para Bruxelas com algumas reservas, com a ideia de que encontraria uma cidade vincadamente administrativa, burocrática e “cinzenta”. Não podia estar mais enganado. Bruxelas é uma cidade cosmopolita, agitada, com vida própria e uma identidade fortalecida pela responsabilidade e carga histórica que os belgas transportam de serem co-fundadores da hoje designada União Europeia, e no orgulho, sentimento profundo e assumpção do que verdadeiramente é “ser europeu”. Lembramo-nos a cada passo que estamos na “capital” da Europa, não só pela proliferação de bandeiras azuis adornadas com doze estrelas amarelas, mas pela diversidade de nacionalidades e raças que se distinguem nas ruas, dando um colorido multilingue que engrandece e muito, o espírito e a riqueza cultural belga.
Na espectacular Grote Markt, dominada pelos grémios datados do séc. XVIII, sobressaem as esculturas douradas que as encimam e acentuam o seu brilho. Distingue-se porém a Maison de Ville que com a sua torre esguia, é avistada de quase toda a cidade. Nesta praça, realiza-se a cada manhã um mercado de flores, às quais nos domingos se juntam inúmeras gaiolas com pássaros, cujo chilrear ajuda a criar um ambiente quase cinematográfico.
No coração da cidade os sentidos fervilham. O cheiro dos gauffres mistura-se com o do cacau que emana das cerca de duzentas chocolaterias que se concentram em torno da Grote Markt, onde é possível comprar chocolates de todas as formas e feitios. Nas esplanadas quase sempre a rebentar pelas costuras, divulgam-se as mais diversas variedades de cerveja, cuja vasta oferta torna a escolha bastante difícil! Estar numa esplanada a saborear uma cerveja e a petiscar uns mexilhões, constitui mesmo uma obrigatoriedade por estas bandas, não só pelos turistas como pelos residentes… difícil mesmo é conseguir um lugar sentado.
Em Bruxelas é quase impossível não nos cruzarmos com algumas das personagens de Hergé, que espreitam nas montras das lojas, como a convidar para que as transportemos para mais uma aventura. Obviamente que Tin Tin, Milu ou os irmãos Dupont e Dupont se encontram em primeiro plano e numa variedade quase interminável de artigos.
Referência em Bruxelas é a pequena fonte com o Manneken Pis, o “menino” que representa a irreverência dos belgas. Este é trajado diariamente com as fatiotas mais ridículas, operação de marketing da responsabilidade de uma movimentada casa de souvenirs estrategicamente situada ao lado da fonte. Numa viagem a esta “cidade do Mundo”, penso que será dispensável visitar tal “menino irreverente”, procurem vocês, outros símbolos na urbe. Não é difícil!

Próxima paragem…

Friday, November 10, 2006

7


Lisboa foi a eleita para acolher o anúncio das novas 7 Maravilhas do Mundo, a decorrer no dia 7 de Julho de 2007 (7/07/07).
Dentre as 21 maravilhas a votação, encontram-se monumentos muito diferenciados. Diferentes na idade, na localização geográfica, nos materiais utilizados, na importância histórica, religiosa ou económica, na simbologia…
Muitas conheço-as bem, mesmo sem as ter visitado. Preenchem o meu museu imaginário, o mesmo que André Malraux define como o conjunto de imagens e memórias que conhecemos (ou não!). Esse conhecimento advêm da visita in loco, mas também do que apreendemos através de diversas formas, sobretudo nos meios de comunicação social e literatura. Quem não conhece e identifica prontamente a Estátua da Liberdade? As pirâmides do Egipto?
Na verdade, das 21 maravilhas que se encontram a votos, apenas visitei 3: o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, a Torre Eiffel em Paris e Alhambra em Granada. Sobre as duas primeiras, já aqui as visitámos em conjunto, quanto a Alhambra talvez por lá passemos daqui a uns dias… fica a promessa e a imagem. Curiosamente, das 3, penso que esta última, eventualmente seria a única a incluir no rol das novas 7 Maravilhas, mas não está nas minhas opções.
Lamento o facto de entre as nomeadas não se encontrar nenhum representante lusitano. Considero, que simbolicamente, a nossa Torre de Belém, os Mosteiros dos Jerónimos, da Batalha, de Alcobaça, Convento de Cristo ou Palácio da Pena, entre outros, retirariam certamente o lugar das Estátuas da Liberdade ou do Cristo Redentor e da própria Torre Eiffel.
Nesta votação, a participação de todos é importante e decisiva, registem-se e elejam as 7 maravilhas da vossa preferência, eis o endereço - http://www.new7wonders.com/.
Eis a minha aposta: Angkor, Machu Picchu, Coliseu de Roma, Estátuas da ilha da Páscoa, Grande Muralha da China, Petra e Pirâmides de Gisé (a única resistentes das maravilhas originais).
Boas escolhas!

Próxima paragem…

Thursday, November 02, 2006

Ao fim ao Cabo


Imponente, altivo, grandioso, eleva-se no mar o cabo da Roca. Majestosamente conduz as ondas, tal maestro a orquestrar os seus músicos, numa música sem fim, ora lenta, ora mexida.
Coroado pelo grande farol que a todos alumia, listado a branco e vermelho, constitui o guardião do velho continente. São diversas as menções ao facto, de ali, nos encontrarmos no ponto mais ocidental da Europa continental. Fruto de uma estratégia de marketing, é mesmo possível obter um certificado, que salvo a redundância, certifica a presença no local, “fulano x de tal, esteve no dia y, no ponto mais ocidental da Europa!”. Para inglês ver, e sobretudo comprar!
Em dia de temporal, é quase ensurdecedor, o som das vagas contra a falésia. Ela resiste, firme, como que a dizer, “quem manda aqui sou eu!!!”.
Aos pés do farol e estendendo-se num enorme manto sobre toda a falésia, o esverdeado dos chorões, pontuado, ora aqui, ora ali, de flores amarelas e cor-de-rosa. No meio deste, rasgam-se trilhos, onde os mais aventureiros se podem deliciar com a soberba paisagem. As vistas obtidas sobre os recortes do litoral são magníficas. Os olhos brilham, quais faróis, quando contemplamos algo de grandioso. Certamente, neste local, já terão sido enganadas muitas embarcações, ao confundir a luz do farol com a dos olhares.

Próxima paragem…