Tuesday, March 07, 2006

Aldeia da Luz (apagada)


As ruas eram estreitas e “desaguavam” no pequeno largo da igreja nova. Ao lado a venda, ponto de encontro para o cafezinho após o almoço, ou para as refrescantes cervejolas do final da tarde, que matavam a sede e tentavam aliviar os sintomas da insuportável calma dos meses de Verão.
No largo, o parque infantil, quiçá mais usado nas últimas semanas de vida da velha aldeia, do que durante toda a sua existência, tal não foi a quantidade de visitantes que a quiseram conhecer antes que submergisse, num mergulho eterno nas águas do Guadiana.
Mais afastada ficava a bonita escola primária, cada vez menos frequentada. Ao fundo, misturava-se o religioso e o profano, igreja, cemitério, campo de jogos e a arena…já não se reza, não se adoram os mortos, não se joga futebol, nem se fazem pegas de cara…só à memória, inundada de solidão.
Neste caso, memórias leva-as a água…
Eram… foi… ficava…não é mais, tudo foi com o caudal crescente do rio.
A planície deu lugar à albufeira, a Aldeia da Luz deu lugar à barragem. Barragem da discórdia, das oportunidades, do emprego, da esperança, da própria luz ao fundo do túnel num Alentejo deserto, despovoado e desprovido de investimentos.
Continuam por concretizar-se as oportunidades…mantém-se a esperança…
Na nova Aldeia da Luz, as ruas não são tão estreitas, o largo não é tão pequeno, contudo, mesmo maior, esta está muito mais cheia, pois além das pessoas, mora lá a saudade.
Próxima paragem…

1 Comments:

Blogger Marlene said...

Já estou como o teu irmão... escrever artigos em revista, não?

2:35 PM  

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