Friday, December 21, 2007

Em casa


Chegou provavelmente, a única altura do ano em que não me apetece andar por fora. O Natal!
A minha família é muito próxima e passamos esta época sempre juntos. Agora que me ponho a pensar, sempre a passei no Algarve, ora em Alcoutim, ora em Tavira, em Faro, Altura, Albufeira ou São Brás de Alportel. Contingências diversas, nomeadamente o alargamento da família, por casamentos ou nascimentos, mudam a localização dos festejos, no entanto, mantém-se um denominador comum, a família. Esta tem aumentado e cada vez mais a luz do Natal parece brilhar intensamente, carregada daquilo a que chamam o espírito natalício, que para mim, não é mais que a reunião familiar. Obviamente que com a chegada dos filhos, dos netos, dos sobrinhos, esta quadra ganha contornos diferentes e existe uma alegria, ainda mais esfuziante.
Felizmente, na minha família existem muitos Natais, sempre que nos juntamos, a festa é garantida. Existe o culto da mesa, as refeições são prolongadas, diversificadas, bem comidas, bem bebidas, acompanhadas de conversa e histórias, que a cada ano se reinventam, parecendo sempre novas. Contamo-las e ouvimo-las como se fosse a primeira vez. O entusiasmo é enorme, o rodopio nos tachos, na louça lavada, que prontamente voltará à mesa para mais uma rodada de qualquer coisa… mariscos, enchidos, queijos, bacalhau, cabrito, feijoada de litão, doces e bolos da época…todos numa sinfonia de sabores que apenas se encontram nesta quadra. Noutra altura não fazem sentido, não sabem ao mesmo.
É já com água na boca que vos deixo um desejo especial, votos de um feliz Natal e um ano de 2008 cheio de coisas boas, saúde, sorte, e já agora, viagens!

Próxima paragem…

Friday, December 07, 2007

Inverno em Cracóvia


O termómetro não passa dos 3 graus, nem mesmo quando o Sol parece querer vingar nas frias manhãs de Novembro. Nas margens do rio Vístula, o velho dragão, símbolo da cidade, hoje não conseguiria expelir mais do que uma tímida fumaça, não intimidaria ninguém e o castelo da cidade seria tomado! É o que faço. Subo a rampa ondulante que me conduz ao interior de um conto fantástico, de lendas e segredos, de mitos e heróicas histórias. Jardins cuidados, galerias, bibliotecas, museus, edifícios com cúpulas vistosas, igrejas ricas e serenas e muito, muito mais, enriquecem o interior do castelo.
Como em todas as histórias, também aqui existem vilões, amarguras e lamúrias, marcas de um passado recente, abrupto, vergonhoso e revoltante. No alto e imponente muro que ladeia a rampa, jazem eternamente os nomes daqueles que sucumbiram na segunda grande guerra mundial, acontecimento que a cidade testemunhou e viveu de forma muito intensa e sentida. Do outro lado do rio fica a famosa fábrica do senhor Schindler, o tal da “lista” que inspirou Spielberg na sua tocante película a preto e branco. O castelo de Cracóvia é o centro cultural por excelência da cidade mártir, que viu crescer o jovem Karol Wojtyjla, que se tornaria no Papa João Paulo II, mas está longe de ser o centro da cidade.
Cracóvia fervilha e vive esfusiante na Rynek Glówny, a Praça Central, uma das maiores praças medievais da Europa. Na igreja de Santa Maria onde o órgão ecoa as preces temerosas dos crentes, ou no altar do século XV, só por si, uma obra-prima gótica; nas megastores culturais, tipo Fnac, onde descubro cds da Mísia e das Divas of Fado (cuja maioria dos nomes desconheço!) e livros de Lobo Antunes e Saramago; no Mercado Central adornado com os brasões das principais cidades polacas, que acolhe lojas onde dominam as cores alaranjadas do âmbar, vendido a preços irrisórios, nas arcadas que recebem pintores e obras de várias correntes; na torre do século XIV, única testemunha do antigo edifício camarário; nos bares e cafés onde se bebe vodka gelada como quem bebe copos de água. Aqui encontra-se o verdadeiro espírito da cidade. Jamais esquecerei o sabor e o preço insignificante do pão com paprika, vendido a cada esquina.
Não se pode circular de automóvel dentro deste centro, os transportes públicos circundam-no, mesmo na margem do anel verde, nesta altura do ano, mais amarelado, verdadeiro pulmão no meio da azáfama. Não resisti e passeei a pé sobre as folhas secas. O frio é mais que muito, nem as vodkas me aquecem o suficiente para não desistir de vaguear pelas ruas de Cracóvia. Apanho um eléctrico e volto para o hotel, são muito parecidos com os de Lisboa. Aliás, os polacos são muito parecidos com os portugueses, parecem felizes mas existe sempre algo na memória… é o fado e a saudade, mas à polaca!
Cracóvia, seguramente para voltar.

Próxima paragem…