Friday, September 29, 2006

Mães negras


À sombra no quintal, as velhas descansam.
Conversam, riem, choram… A idade pesa e a vida não lhes foi fácil.
Com simpatia acolhem as “boas tardes!”, respondendo e acenando prontamente.
Deixo-me ficar para dois dedos de conversa. É esta que anima os dias, na calma serena de Santa Maria do Sal, ajudando-os a passar, devagar, devagarinho, empurrados pelo vento que teima em ficar.
Cada ruga uma história. Rugas, testemunhas e marcas da solidão, experiência, sabedoria e insularidade. São vidas de sal, literalmente de sal e do Sal.
Os lenços escondem os cabelos brancos, que juntamente com as batas dão vivacidade à tonalidade negra da pele. O casario, também ele colorido, ganha expressão com tão dignas presenças, as matriarcas da ilha.
Nas ruas, os miúdos correm desenfreados, num chinfrim sem igual.
“É assim todos os dias! Até gostamos… ajuda-nos a passar o tempo. Por vezes sentam-se connosco e pedem-nos doces! São uns malandros, terríveis!... São crianças!”
Encontro intergeracional, troca salutar de vivências, experiências, brincadeiras e mimos.

Próxima paragem…

Friday, September 22, 2006

Deserto, quase deserto


Neste Deserto não há dunas imensas de areia, nem oásis nem camelos. Também quase não há casas habitadas. Das cerca de 20 habitações do lugarejo, apenas duas estão ocupadas. A média de idades da população residente supera os 75 anos. São apenas 4, dois casais. Quando a minha mãe aqui nasceu, seria tudo diferente.
Hoje, os animais domésticos são mais que as pessoas, e são eles que juntamente com as pequenas hortas, preenchem os dias e fazem os horários.
Chama-se Deserto, o pequeno lugar do Monte dos Balurcos de Baixo, no recôndito concelho de Alcoutim, no Nordeste algarvio. As casas degradam-se, os muros caem, não ficando pedra sobre pedra, nas barreiras que outrora separavam as terras, hoje, muito pouco cultivadas.
Contingências das características da região, surgem por vezes alguns estrangeiros que procuram o sossego e tranquilidade destes locais para passar temporadas no nosso ameno e quase primaveril Inverno. E assim, lá ressuscitam algumas casas, alguns terrenos agrícolas e até algumas pessoas. O convívio entre eles e a população local revitaliza os pequenos lugares, mas não chega para revitalizar o já muito deprimido concelho.
Cada vez menos se vêm os figos a espreguiçar-se ao Sol, as azeitonas para britar teimam em não ser apanhadas, as alfarrobas caem de velhas e secas, os frutos são petisco pouco apetecido, até para os pássaros! Quando voltarei a comer uma alface, que saiba a alface, “a tal de folhas arroxeadas”, como só a tia Maximina cultivava no quintal…
A inversão desta realidade (que a tendência já é só uma memória) não tem sido fácil, e as casas e muros espelham o despovoamento, assim como as terras abandonadas expressam o avanço brutal e agreste da desertificação, cada vez mais consonante como o nome do lugarejo. O Deserto, e todos os outros “desertos”, de Alcoutim e do interior do país, ainda vêm os dias nascer, não se sabe, é por quanto mais tempo…

Próxima paragem…

Monday, September 18, 2006

Férias...


Tive de férias!
Voltei a 3 países onde já tinha estado: Suiça, Itália e França.
Para comemorar o seu primeiro aniversário, estreei a minha filhota nas viagens. Ela gostou. Não estranhou o avião, nem o comboio, nem o barco, nada! Acho que ficou com o bichinho!
Passeámos muito, múltiplas paisagens! Rochosas, verdejantes, planas, acidentadas, cobertas por grandes mantos de neve, lagos majestosos, lagos subterrâneos, rios magníficos, cidades medievais, castelos altaneiros, cidades cosmopolitas, agitadas… Tudo isto e muito mais! Tantos posts que poderei escrever, partilhando convosco, as memórias e recordações que cimentei.
A reter, as cores. O verde dos prados, das vinhas, das encostas dos lagos Leman e do Maggiore, dos Vales d’Aosta e Vallorbe. O branco de Zermatt, Koningratt, Chamonix, Auguille du Midi e Mont Blanc. O dourado das galerias e igrejas de Milão, do carrossel em Geneve. O azul do Leman, do Maggiore e do céu sobre os Alpes. O castanho e cinzento das fachadas de Sion, Geneve, Lausanne, Vallorbe, Yverdon, Grandson e dos lobos e ursos pardos no Parque Jura. O amarelo dos queijos suíços. O preto e branco das vacas malhadas que pastam nas bermas das estradas… todas as cores, vivas, inspiradoras e mote para próximas paragens!

Próxima paragem…

Monday, September 04, 2006

La movida de Madrid


Dia ou noite não faz diferença. Madrid mexe! As artérias da cidade fervilham. Na Gran Via, os carros correm como loucos para chegar não sei bem onde… Ao fim da tarde, avolumam-se as pessoas nas entradas dos teatros. Em cartaz, os mais conhecidos espectáculos musicais, imortalizados na americana Broadway e no West End londrino, mas aqui representados em castelhano. Fui a medo. E não é que o “Fantasma da Opera” e o “Cats” até têm piada na língua de Cervantes! Excelentes músicos, actores e produções fenomenais. A da primeira, anunciada como a mais cara produção da peça (e percebe-se porquê) mostra-nos Paris, a famosa Opera e as catacumbas em pleno palco madrileno. Muito bom.
Depois, enchem-se os restaurantes, os bares e as discotecas, perpetuando a animação até cansar. “Capital”, referência obrigatória na noite do país vizinho, merece uma visita com a promessa de fiesta até altas horas. A visita serve também para verificar como de um antigo teatro, nasce um impressionante espaço de animação nocturna distribuído por sete andares (sim, sete andares!!!!) cada um, com ambientes, luz, som, decorações diferentes. Em vez de os deitarmos abaixo, não seria melhor reinventá-los?
De manhã cedo, desponta o Sol e procuro um “buteco” que me sirva um bocadillo e algo fresco que ajude a recuperar as mazelas da noite. Passo por D. Quixote e Sancho Pança, sonhadores na sua vangloriosa caminhada, destronando moinhos de vento. Chego ao Parque de Debod, cujo templo reflecte sobre as águas gélidas que acordam comigo na fria manhã de Janeiro, carregando o dia de mistério e energia para as caminhadas que se seguem. Há que descobrir a cidade.

Próxima paragem…