Friday, September 22, 2006

Deserto, quase deserto


Neste Deserto não há dunas imensas de areia, nem oásis nem camelos. Também quase não há casas habitadas. Das cerca de 20 habitações do lugarejo, apenas duas estão ocupadas. A média de idades da população residente supera os 75 anos. São apenas 4, dois casais. Quando a minha mãe aqui nasceu, seria tudo diferente.
Hoje, os animais domésticos são mais que as pessoas, e são eles que juntamente com as pequenas hortas, preenchem os dias e fazem os horários.
Chama-se Deserto, o pequeno lugar do Monte dos Balurcos de Baixo, no recôndito concelho de Alcoutim, no Nordeste algarvio. As casas degradam-se, os muros caem, não ficando pedra sobre pedra, nas barreiras que outrora separavam as terras, hoje, muito pouco cultivadas.
Contingências das características da região, surgem por vezes alguns estrangeiros que procuram o sossego e tranquilidade destes locais para passar temporadas no nosso ameno e quase primaveril Inverno. E assim, lá ressuscitam algumas casas, alguns terrenos agrícolas e até algumas pessoas. O convívio entre eles e a população local revitaliza os pequenos lugares, mas não chega para revitalizar o já muito deprimido concelho.
Cada vez menos se vêm os figos a espreguiçar-se ao Sol, as azeitonas para britar teimam em não ser apanhadas, as alfarrobas caem de velhas e secas, os frutos são petisco pouco apetecido, até para os pássaros! Quando voltarei a comer uma alface, que saiba a alface, “a tal de folhas arroxeadas”, como só a tia Maximina cultivava no quintal…
A inversão desta realidade (que a tendência já é só uma memória) não tem sido fácil, e as casas e muros espelham o despovoamento, assim como as terras abandonadas expressam o avanço brutal e agreste da desertificação, cada vez mais consonante como o nome do lugarejo. O Deserto, e todos os outros “desertos”, de Alcoutim e do interior do país, ainda vêm os dias nascer, não se sabe, é por quanto mais tempo…

Próxima paragem…

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