Thursday, July 27, 2006

Do azul do céu


As árvores despidas denunciam o Inverno. É manhã, bem perto do almoço, as vizinhas descansam nos bancos de jardim, vermelhos como as portas e os rebordos das janelas. A sua presença combina com a paisagem, parece que foram feitos para lá ter sempre alguém sentado. É Inverno, e nesta altura não se disputam os bancos em Porto Covo. No Verão sim, a aldeia enche-se de gente que a transforma por completo, disputando bancos, lugares nas praias, para os carros ou para fazer uma refeição num dos restaurantes locais. Experimentem procurar um bom restaurante para almoçar ou jantar em pleno Verão. Desta vez não foi problema, era só escolher. Peixe grelhado vai sempre bem, bem fresco e bem regado com um verdinho.
Após o almoço, uma pequena caminhada. As sucessivas platibandas azuis caracterizam a aldeia e enquadram o passeio. A rusticidade do conjunto arquitectónico, com as suas emblemáticas e azuis pinceladas sobre as paredes caiadas, fazem de Porto Covo o principal postal turístico do concelho de Sines, rivalizando em popularidade com os destinos dos concelhos limítrofes, nomeadamente Vila Nova de Milfontes, Zambujeira do Mar ou Santo André. Mas Porto Covo tem aquela estrelinha que a torna única e inigualável no litoral alentejano.
Desde 2000 mudou muito. Voltei no ano passado e a magia perdura em cada barra azul, rasgo de céu, no mar de casas térreas, vizinhas da capela no grande largo. Contudo, a pressão urbanística desceu as ruas e lança-se sobre a costa, sobretudo nas imediações da Praia Grande, ameaçando e reduzindo a singularidade da aldeia. É urgente parar esta ameaça, para que as imensas manchas amarelas, rosa e “cor de burro quando foge”, não poluam de vez, o pequeno e aprazível mar de espuma branca com laivos azuis.

Próxima paragem…

Wednesday, July 19, 2006

Nublada Berna


As ruas esguias de casario escuro prolongam o céu carregado de nuvens. É uma imagem escura, aquela que guardo de Berna. Agrada-me esta tonalidade, lembra-me um pouco o Porto.
Visitá-la num dia solarengo não teria certamente a mesma piada. O cinzentismo manifesta-se apenas na cidade, nas ruas, nos edifícios… nas pessoas não. Divertidas e barulhentas, enchem as esplanadas que se aninham em torno do imponente edifício da Parlamento, bebendo cervejas ou saboreando deliciosos bolos folhados. Por entre os esguichos de água que explodem do chão, correm miúdos, que brincam alegres e na expectativa de adivinhar de onde sairá o próximo jacto. Bem perto, colunas monumentais testemunham o passado medieval da cidade e evidenciam e enaltecem o símbolo da cidade, o urso. É recorrente a utilização deste animal ao longo de toda a urbe. Ambos pardos, o urso e a cidade.
Atravessando a cidade, o rio Aar rasga-a de cor, destoando assim, no meio de tanta escuridão. As margens negras acentuam a tonalidade das águas esmeralda que coroam de luz a obscuridade de Berna.
Sob os arcos da velha cidade medieval, desfilam eléctricos sobre os ondulantes carris. Serpenteiam avidamente, como se mergulhassem num infinito e profundo breu, com os encarnados transportes a reflectir nas poças de água, que acompanham e ladeiam o trajecto.

Próxima paragem…

Friday, July 14, 2006

Aviso à Tripulação

Caros viajantes,
A viagem é global, o destino é o mundo... o meu blog vai dar um programa de rádio!
Não percam na Rádio Comercial dia 15 de Julho (sábado) às 12.00 h e dia 16 (domingo) às 18.00 h, o programa "O meu blog dava um programa de rádio" que vai incidir sobre o meu "Calcanhar de Aquiles".
Relembrem alguns destinos que já visitámos, desta vez acompanhados por uma banda sonora de primeira!!!

Próxima paragem...

Wednesday, July 12, 2006

Teresin, a caminho do fim


Rodeada de prados verdes, frescas águas dos riachos encaixados nos canais circundantes, Teresin caracteriza-se pela planta ortogonal, com quarteirões desenhados de forma milimétrica, ruas largas e alinhadas sequencialmente a desembocar numa grande praça central, um enorme jardim para a parada, onde se encontram as mais importantes funções e equipamentos, a igreja, a escola e antigos edifícios militares. A arquitectura militar domina a cidade, que se desenvolveu, precisamente em torno dessa função. Não fosse o horror da segunda grande guerra, e Teresin seria uma simpática povoação, situada a pouco mais de uma hora de Praga.
A História encarregou-se de mudar esse destino. Aqui, instalou-se um dos maiores campos de transitação do poderoso monstro nazi. Daqui partiram milhares de homens e mulheres, que acabaram por fenecer num qualquer campo de concentração. Muitos não chegaram a partir, perderam as suas vidas neste local arrepiante e de má memória. A cidade é triste, pesarosa, detém um luto constante. Mesmo com centenas de visitantes por dia, Teresin é silenciosa, até os pássaros parecem não querem sobrevoar estas paragens. Ainda se respira a morte…
São vários os espaços que testemunham a presença inimiga no território. Nos fortes, no crematório, no cemitério, nas “barracs”, o “gheto” e muitos outros locais. Um campo à escala da cidade, testemunho da dimensão do horror, a caminho do fim…
No pequeno forte sucedem-se as salas e a descrição da vivência do campo. Sente-se medo, frio, terror. É a revolta, a escuridão e a impotência. Os sinais de morte povoam o campo e invadem-nos a cada passo. Marcante, muito marcante. Às vitimas, um punhado de pedras e uma rosa vermelha.

Próxima paragem…

Monday, July 03, 2006

Tenerife, África Atlântica


Tenerife foi dos meus primeiros destinos de férias. Um animado final de ano, num ido 1998.
Tenerife, a maior ilha do arquipélago das Canárias reúne uma série de atractivos, que fazem dela, um dos mais difundidos destinos de férias na vizinha Espanha. As cidades cuidadas e limpas, revelam nas janelas, varandas, ruas e avenidas, as cores das flores cultivadas localmente. As flores são uma das imagens da ilha, encontrando-se pelas ruas, floristas trajadas tradicionalmente, com trajes coloridos e às riscas, idênticos aos da próxima ilha da Madeira.
Com fortes contrastes paisagísticos, é possível observar cenários desérticos e pedregosos, áridos e sem vegetação, sobretudo no Sul da ilha, e densas florestas e pinhais, cujos verdes se sucedem incansavelmente, na parte Norte. No centro, imponentes e majestosos, os 3718 m do Pico del Teide, ponto mais alto de Espanha, cujas erupções o rodearam de originais formas de relevo, fazem deste local, o sítio mais emblemático e marcante de toda a ilha.
As praias ensombradas pelos hotéis e apartamentos turísticos, enchem-se dia apos dia, de turistas ávidos e sol e de mar. Com areia escura e grada, não apresentam para mim, um ar muito convidativo… (contingências de viver no Algarve) A salvar a honra balnear de Tenerife, Las Teresitas, a única praia de areia branca. Esta praia tem a particularidade da areia ter sido importada do deserto do Sahara, e com ela o calor, a magia e quem sabe o reencontro entre dois territórios, ao fim ao cabo, tão próximos e tão distantes.
Junto da principal entrada para o “longínquo” areal, o senão desta idílica praia, flores, mas infelizmente, não nas bancas das floristas, mas nas campas do cemitério contíguo. Imaginem o slogan promocional “Desfrutem a belíssima praia de areias finas e claras e visitem o simpático cemitério local” ou “ Descanse eternamente nas praias de Tenerife” ou ainda um simples “Deixe-se ficar…”.
Descubram as diferenças nas fotos e digam-me qual dos destinos escolheriam para férias? Afinal, é só um problema de escala...




Próxima paragem...