Do azul do céu

As árvores despidas denunciam o Inverno. É manhã, bem perto do almoço, as vizinhas descansam nos bancos de jardim, vermelhos como as portas e os rebordos das janelas. A sua presença combina com a paisagem, parece que foram feitos para lá ter sempre alguém sentado. É Inverno, e nesta altura não se disputam os bancos em Porto Covo. No Verão sim, a aldeia enche-se de gente que a transforma por completo, disputando bancos, lugares nas praias, para os carros ou para fazer uma refeição num dos restaurantes locais. Experimentem procurar um bom restaurante para almoçar ou jantar em pleno Verão. Desta vez não foi problema, era só escolher. Peixe grelhado vai sempre bem, bem fresco e bem regado com um verdinho.
Após o almoço, uma pequena caminhada. As sucessivas platibandas azuis caracterizam a aldeia e enquadram o passeio. A rusticidade do conjunto arquitectónico, com as suas emblemáticas e azuis pinceladas sobre as paredes caiadas, fazem de Porto Covo o principal postal turístico do concelho de Sines, rivalizando em popularidade com os destinos dos concelhos limítrofes, nomeadamente Vila Nova de Milfontes, Zambujeira do Mar ou Santo André. Mas Porto Covo tem aquela estrelinha que a torna única e inigualável no litoral alentejano.
Desde 2000 mudou muito. Voltei no ano passado e a magia perdura em cada barra azul, rasgo de céu, no mar de casas térreas, vizinhas da capela no grande largo. Contudo, a pressão urbanística desceu as ruas e lança-se sobre a costa, sobretudo nas imediações da Praia Grande, ameaçando e reduzindo a singularidade da aldeia. É urgente parar esta ameaça, para que as imensas manchas amarelas, rosa e “cor de burro quando foge”, não poluam de vez, o pequeno e aprazível mar de espuma branca com laivos azuis.
Próxima paragem…