Thursday, March 01, 2007

Pax Julia


Tranquilamente caminho pela rua estreita que me leva do convento de São Francisco à praça da República onde se encontra a impressionante igreja da Misericórdia, nitidamente de influência italiana, nomeadamente na entrada que lembra o Mercato de Loggia em Florença, mas sem as esculturas que caracterizam a segunda.
Entro no ritmo destas paragens. Devagar, devagarinho, quase parado. A calma (calor) toma conta do corpo e não permite grandes acelerações. Na torreira do Sol, quase frito nos quase 40 º C que se fazem sentir. Daí ao castelo, é um pulinho. Entro. Surpreendo-me com o excelente estado de conservação, com a informação disponibilizada e com a simpatia de quem nos recebe. “Estamos quase a fechar…” – dizem-me – “mas dê lá a sua voltinha descansado! Não deixe de subir à torre de menagem, a vista é magnífica!”
Subo. O calor e a sede fazem com que a subida pareça interminável… mas vale a pena. Os olhos alcançam toda a Pax Júlia, alva de cal, rodeada da planície retalhada e multicolor. Nesta altura os verdes secam e dominam os tons pastel. Uma aguarela.
Capital da planície, Beja descansa serena à sobra de um chaparro. O final da tarde ameniza a temperatura. Percorro agora a rua do comércio, ainda sem a invasão das lojas “franchisadas”. Aqui e ali, começam a surgir, sorrateiras, as osgas nas paredes. São muitas, verdadeiras artistas ao desafiar a lei da gravidade. Acho-lhes piada. Mas acho mais piada a quem se desvia delas com medo que lhes caiam em cima …
Na manhã seguinte, no exterior das muralhas do castelo visito o mercado matinal de sábado. Gosto de percorrer mercados, de falar com as pessoas. Neste caso era necessário entrevistá-las, corria a elaboração do Plano de Desenvolvimento Turístico do Alentejo. Era preciso ouvir opiniões, avaliar produtos, desenvolver outros, propor novos. Observo um estrangeiro. Dirijo-me a ele e avanço com a entrevista. Era alemão, 50 e tal anos, viajava com a esposa e estavam a apreciar bastante as paisagens alentejanas e a gastronomia (um clássico!). Para completar o perfil perguntei-lhe acerca da sua profissão. Responde-me – “Sou pintor…” sem o deixar terminar e entusiasmado com a originalidade da profissão, que na altura considerei um achado entre as dezenas de pessoas com quem já tinha falado, não perdi a oportunidade e questionei se não havia encontrado boas fontes de inspiração para pintar no Alentejo, ou mesmo, para pintar o Alentejo. A resposta não tardou. No meio de uma gargalhada disse-me: - “sou efectivamente pintor, mas de construção civil!” – a entrevista terminou numa risada completa.

Próxima paragem…

1 Comments:

Blogger Marlene said...

E a pensão coelho sempre ao seu mais alto nível!!!

:)

3:23 AM  

Post a Comment

<< Home